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A GRANDE MÁGICA

  • contosdosidao
  • há 3 dias
  • 3 min de leitura
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Um dos maiores teatros da cidade, com capacidade de até mil pessoas, apresentou o espetáculo de um mágico de sucesso. Eu trabalhei na produção da peça. A década de 1980 era próspera em números de magia, havia ótimas performances na arte do ilusionismo.

O principal número da sessão do mágico contratado envolvia um truque específico que seria espetacular para o gosto da audiência, sedenta por grandes arrebatamentos. O mágico confidenciou-me todos os pormenores daquela trucagem em poucos minutos, eu entendi perfeitamente as engrenagens daquele número de magia. E era algo espetacular ao meu juízo.

Além disso, o mágico nos bastidores me convidou a trabalhar com ele, para ser seu coadjuvante na grande mágica que iria finalizar o espetáculo com chave de ouro, para o delírio do público que lotaria o teatro. Claro que eu topei na hora.

Fizemos alguns ensaios antes do espetáculo começar. Ao término da apresentação, como combinado, eu entrei no palco com uma roupa de motociclista e vestia um capacete. O mágico me apresentou ao público, e me convidou a tirar o capacete para que todos conhecessem meu rosto. Após as boas-vindas, eu saí dos holofotes e busquei uma motocicleta que estava estacionada logo atrás do palco.

Assim que eu regressei ao palco, já segurando a moto pelo guidão, ele me cobriu totalmente com um pano branco. Todos os lances foram realizados com precisão na apresentação, sob os olhares espantados dos espectadores. O mágico proferiu seus encantamentos em palavras desconhecidas e, após alguns momentos, ele levantou o tecido. Eu havia sumido. Em alguns segundos a moto reaparecia conduzida por um motociclista anônimo, desta vez ligada, pelos fundos da plateia.

O mágico solicitou ao motociclista para conduzir a máquina até o centro do palco. Ao chegar novamente aos holofotes, o motociclista levantou o capacete e, para a absoluta surpresa de todos, era eu mesmo que estava guiando a moto para o delírio dos espectadores. E assim o show terminava no seu clímax; era um êxtase completo no último ato do show com aclamação geral pelo público.

No mesmo dia, havia mais sessões de magia a serem realizadas pelo mágico-celebridade. Percebi que uma boa parcela dos espectadores da primeira sessão, retornaram para a próxima. Todos queriam entender o truque derradeiro da moto e do motociclista. A plateia perguntava aos produtores do teatro como era possível eu ter sumido do palco e, em poucos segundos, ter entrado pelos fundos do teatro. Pelas teorias do espaço-tempo da Física moderna, esse reaparecimento era impossível.

E daí surgiram muitas hipóteses falsas entre os espectadores. Muitos entendiam que havia um túnel abaixo da plateia, por onde eu passaria com a moto em velocidade. Hipótese bastante precária, porque mesmo com a existência do túnel, não daria tempo de eu fazer o percurso até a entrada do teatro em poucos segundos.

Ninguém conseguia desvendar o truque, nem os produtores locais da empresa em que eu trabalhava. Eu nunca contei a ninguém o que de fato acontecia. A cada sessão que findava, mais teorias absurdas surgiam, algumas teses conspiratórias que nos divertiam muito nos bastidores. Dávamos boas risadas.

Você conseguiria desvendar o truque? Que segredo era esse, uma mágica que conseguia enganar milhares de pessoas naquela turnê, sem esclarecimento até os dias atuais?

O segredo será por mim revelado, depois de algumas décadas de silenciamento. Aguarde o próximo texto, contarei tudo em detalhes.

 

Sidnei Oscar Duarte

Porto Alegre, 1º de março de 2024

Imagem: FreePik

 
 
 

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